“A história de um homem valente, determinado,
influente e que contribuiu para a formação do Norte de Minas. Deixou sua
terra natal e mudou-se para Pernambuco, onde virou Comissário de Policia das
Forças Volantes. Nos anos 30 rumou para Minas Gerais mudando o rumo da vida
dele e o destino do Norte de Minas.”
Nascia no
sertão paraibano o homem que iria entrar para a história de Minas Gerais como
fundador de uma próspera e acolhedora cidade. Enéas Mineiro de Souza nasceu
no dia 12 de fevereiro de 1889, no povoado de Lagoa Monteiro, no município de
São João do Cariri, interior da Paraíba.
Aventureiro,
destemido e determinado, o homem de personalidade forte deixou a terra natal
e mudou-se para Pernambuco, onde virou Comissário de Policia das Forças
Volantes daquele Estado. Nos anos de 1930 partiu para Minas Gerais mudando o
rumo da sua vida e o destino do Norte de Minas.
Na cidade de
Francisco Sá, Enéas Mineiro foi prefeito entre 1946 e 1950. Em 1950 confirmou
a trajetória de líder regional tornando-se prefeito de Montes Claros.
Seguindo os trilhos do progresso, adentrou o Cerrado para retirar as madeiras
que serviram para a fabricação de dormentes para a ferrovia que desbravava o
sertão norte-mineiro. A Estrada de Ferro Central do Brasil, um dia, foi o
principal meio de transporte da região.
De fazenda à cidade das Alamedas
Em 20 de
janeiro, dia de São Sebastião, o Capitão chegou onde, agora, é a cidade que
leva o seu nome. Tomou como desafio a construção de longos trechos
ferroviários para a Estrada de Ferro Central do Brasil de Minas Gerais,
ligando São Paulo à Bahia. Intrépido, adentrou-se nas matas entre os rios
Verde, São Domingos e Quem Quem, ocupou vasto território e próximo ao de Sapé
No local montou a Fazenda Burarama e começou a desenvolver atividades
agropecuárias e comerciais. Com isso, o lugarejo cresceu rápido, foram
construídas casas, as Capelas Nossa Senhora da Guia e de São Sebastião,
cinema, armazéns, bares, o Hotel Burarama, farmácias e lojas. Centenas de
homens, que vieram para trabalhar na ferrovia Central do Brasil e na serraria
(que produzia cerâmica, telhas e tijolos), pertencentes ao Capitão Enéas,
pessoas de muitas regiões não paravam de chegar. Isso permitiu a expansão
física do lugar. Enéas fez um planejamento de crescimento, aos moldes das
grandes cidades desenvolvidas, inclusive a capital do Brasil, Brasília. No
lugar de ruas, optou por longas e espaçosas avenidas e alamedas.
Na revisão
administrativa do Estado de Minas Gerais, em 1962, a Fazenda que pertencia ao
município de Francisco de Sá, conseguiu a emancipação político-administrativa.
Da legalização encarregou-se o Deputado Jorge Vargas, que junto ao governador
José de Magalhães Pinto não teve dificuldade de se fazer aprovar Projeto de
Lei Nº 2.189/65, na Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais. Projeto
que se fez lei, publicado no “Minas Gerais”, de 15 de setembro de 1965,
autorizando definitivamente a mudança do nome Burarama de Minas para “Capitão
Enéas”. Burarama de Minas foi o primeiro município do Brasil a ser emancipado
sem antes passar pela condição de arraial, povoado, vila ou distrito. Na
época, o senhor Jacinto Teixeira da Silva foi nomeado interventor, cargo que
ocupou até ser preparada a primeira eleição municipal, em 1963. O primeiro
prefeito, merecidamente, foi Capitão Enéas Mineiro de Souza, que sempre
mostrou ser um visionário, empreendedor e à frente do seu tempo.
Com o progresso
foram erguidos campos de futebol, clube social, postos de saúde, A escola
Estadual Nossa Senhora da Guia e o campo de pouso para aviões. Os sistemas de
energia elétrica e abastecimento de água também foram criados. A saga
deste bravo herói sertanejo terminou no dia 11 de setembro de 1965, aos 76
anos. Desta data em diante Burarama de Minas passou a se chamar Capitão
Enéas, uma justa e bela homenagem ao grande aventureiro paraibano de alma
mineira.
Enquanto que em Burarama, Enéas, já no final de sua linda e proba
existência, ainda dava as cartas como o dono do pedaço e senhor absoluto.
Muito fez em defesa de seu povo e de seu torrão que hoje se denomina Capitão
Enéas, a Cidade das avenidas, por suas vastas, planas e bem traçadas ruas,
cuja planície, presente da Natureza, por concessão única ou quiçá por
descuido dos deuses, àquele abençoado recanto localizado ao norte de Minas,
estado que se encontra em quase seu todo, coberto por montanhas e elevações,
dai vindo o seu codinome “alterosas”.
Por outro lado, Enéas, ou o Capitão Enéas Mineiro de Souza, era homem
de poucas palavras e não muito afeito às letras. Também não dispunha do jogo
de cintura necessário em todas as atividades e principalmente na arte da
política. Falava estritamente o necessário e, acostumado a caserna dos
senhores de engenhos de onde provinha, expressava-se na maioria das vezes com
frases truncadas e nem sempre compreensíveis. Bem humorado, afável,
sorridente, no entanto, o Capitão possuía um senso de humanidade e um coração
bondoso que contrastavam com suas rudes palavras. Empreendedor contumaz, esse
Paraibano arretado, “Bandeirante do Norte das Gerais”, era comprometido com o
seu povo, com o Brejo e com sua “Burarama”, hoje Capitão Enéas, em sua justa
homenagem.
Dados oficiais: elevado à categoria de município e distrito com a
denominação de Bururama de Minas pela Lei Estadual n° 2.764 de 30/12/1962,
desmembrando-se de Francisco Sá. Pela Lei Estadual n° 3.973 de 15/12/1965 o
município de Bururama de Minas passou a se chamar Capitão Enéas.
A estação foi aberta em 1944 com o nome de Burarama. Pouco tempo mais
tarde, o nome foi alterado para Engenheiro Zander, ainda nos anos 1940. O
trem de passageiros deixou de ali passar em 1996. Hoje o prédio está sendo
utilizado como escritório pela FCA. Mas descaracterizado com a troca de suas
janelas e portas de madeira por metálicas, tendo também perdido o guichê onde
se vendiam as passagens.
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